sábado, 28 de março de 2015

Henri Lefebvre e a questão do cotidiano

  Vida cotidiana e espaço urbano periférico


 O sociólogo, filosofo e matemático francês, Henri Lefebvre tem grande importância para as ciências humanas, suas maiores contribuições se deram principalmente através da sua teoria de produção do espaço e a maneira como elucida a relação entre o urbano e a vida cotidiana.  A compreensão da totalidade do espaço geográfico só é alcançada a partir da compreensão da sociedade urbana.
Ele salienta que essa categoria  (o cotidiano) não deve ser diminuída dentro da sociologia. Que pular o nível do habitar (p) e se focar somente nas lógicas industriais de planificação colabora para o desconhecimento do ponto crítico fazendo da cidade  um valor de troca e as lógicas de mercado determinantes.

Entender a cotidianidade é algo que envolve diversas ciências. Mostrar “como as pessoas vivem, a crítica da vida cotidiana instala o ato de acusação contra as estratégias que conduzem a tal resultado”. Estratégias dissimuladas pela ideologia urbanística classista e segregadora.

 A "cotidianeidade" é  vista como o informal, o espaço do banal, do espontâneo,  mas é  também  o  conteúdo  das  formas,  das  ideologias,  da  cultura,  da linguagem,  das  instituições,  das  atividades  constituídas  e  estruturadas (HERCULANO, 2010).

Em a Sociedade Urbana, Lefebvre trata da sociedade que nasce da industrialização e que foi constituída por um processo que domina e absorve a produção agrícola. A Sociedade urbana só pode ser concebida ao final de um processo no curso no qual a cidade explode (o tecido urbano se prolifera, estende-se, corrói os resíduos de vida agrária, tecido urbano que não designam, de maneira restrita, o domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das manifestações do predomínio da cidade sobre o campo), e as antigas formas urbanas, herdadas de transformações descontínuas e as antigas relações sociais implodem. É válido ressaltar que nada acontece de maneira igual em todas as partes do mundo, por isso existem cidades diferentes, regiões diferentes, etc.

Nessa visão a cidade não é reduzida a simples localização dos fenômenos (da indústria, por exemplo), para revelá-la como sentido da vida humana em todas as suas dimensões, - de um lado, enquanto acumulação de tempos, e de outro, possibilidade sempre renovada de realização da vida. Assim, a cidade se realizaria também, como lugar do possível – possibilidade de um projeto voltado para o futuro.

A cidade, enquanto construção humana é um produto histórico-social e nesta dimensão aparece como trabalho materializado, acumulado ao longo do processo histórico de uma série de gerações. Expressões e significações da vida humana, obra e produto, processo histórico cumulativo, a cidade contém e revela ações passadas, ao mesmo tempo em que o futuro, que se constrói nas tramas do presente – o que nos cola diante da impossibilidade de pensar a cidade separada da sociedade e do momento histórico analisado.

Para Lefebvre usar a cidade como valor de uso significa habitá-la nos gestos do cotidiano. Daí a importância da crítica da vida cotidiana, pois é nas pequenas coisas que podemos encontrar formas de relação autênticas.  A aparência da vida  cotidiana  está no aspecto do familiar, do banal, do inautêntico, no entanto é justamente aí que surgirá o que é o homem.

Segundo Proença (2011):

Afirmar a cidade  como  obra  significa  reivindicar  nela  dois  direitos  fundamentais:  o  direito  à apropriação e o direito à participação. A apropriação, longe de ser apenas considerada como um direito a estar presente fisicamente num espaço material, sendo o aspecto mais elementar de  um  direito  à  cidade,  ela  é  sobretudo  a  possibilidade  de  reinventar  e  de  criar  a  cidade, enquanto entidade espacial e política.


Assim, estudar sobre o cotidiano nos remete a buscar compreende-lo através das dimensões em que ele é e se dá, o que para Lefebvre são as três dimensões da cotidianidade que se dão em relações dialéticas e constituem uma unidade, ou seja uma totalidade que deve ser apreendida. As três dimensões são: o trabalho, a família e o lazer e pensá-las como questões tensas  da vida social e carregada de conflitos.

Outro conceito importante é o de vivido que ligado diretamente ao viver seria o conjunto de experiências sociais dadas e realizadas no decorrer da cotidianidade que se realiza constantemente nas tramas das relações pessoais. O espaço concebido “constituem o espaço dos planificadores, dos urbanistas e dos tecnocratas  que  projetam  o  território  e  o  dispõem  procurando  reduzir  ao  espaço  que  eles concebem,  o  espaço  vivido  e  percebido  pelos  utentes  e  pelos  habitantes.” Proença (2011). O espaço percebido é o das práticas sociais e constituem as nossas representações, elas são o produto da apropriação do espaço e segregam seu próprio espaço.

Referências Bibliográficas:
LEFEBVRE, Henry. Ao redor do ponto crítico. In: LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.
_______________.Sobre a forma urbana. In: LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001

_______________. Para uma estratégia urbana. In: LEFEBVRE, H.  A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. 
ALFREDO, Anselmo. O mundo moderno e o espaço: apreciações sobre a contribuição de Henri Lefebvre.  Disponível em: <http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/Geousp/Geousp19/Artigo_Anselmo.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2013. 
HERCULANO, Selene. A vida cotidiana sob o olhar sociológico. Disponível em: < http://www.professores.uff.br/seleneherculano/images/stories/A_Vida_cotidiana_sb_o_olhar_sociolgico_v3.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2013.

LACOMBE, Marcelo S. Masset. Os fundamentos marxistas de uma sociologia do cotidiano. Disponível em: < http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/17/Artigo_05.pdf>. Acesso em 17 dez. 2013. 
OLIVEIRA, Adriano Gama. Senso Comum e cotidiano. Disponível em: < http://www.nufipeuff.org/seminario_gramsci_e_os_movimentos_populares/trabalhos/Adriano_Gama_de_Oliveira.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2013.
SOTO, William Héctor Gómez.  Espaço e política em Lefebvre. Disponível em: <http://pensamentoplural.ufpel.edu.br/edicoes/03/09.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2013.

UCHÔA , Fábio Raddi. A sociedade urbana de Henri Lefebvre. Disponível em: <http://conti.derhuman.jus.gov.ar/2011/10/mesa_4/uchoa_mesa_4.pdf> Acesso em 17 dez. 2013.