Vida
cotidiana e espaço urbano periférico
O
sociólogo, filosofo e matemático francês, Henri Lefebvre tem grande
importância para as ciências humanas, suas maiores contribuições se
deram principalmente através da sua teoria de produção do espaço e a
maneira como elucida a relação entre o urbano e a vida cotidiana. A
compreensão da totalidade do espaço geográfico só é alcançada a partir da
compreensão da sociedade urbana.
Ele
salienta que essa categoria (o cotidiano) não deve ser diminuída dentro da sociologia. Que
pular o nível do habitar (p) e se focar somente nas lógicas industriais de
planificação colabora para o desconhecimento do ponto crítico fazendo da cidade um valor de troca e as lógicas de mercado determinantes.
Entender
a cotidianidade é algo que envolve diversas ciências. Mostrar “como as pessoas
vivem, a crítica da vida cotidiana instala o ato de acusação contra as
estratégias que conduzem a tal resultado”. Estratégias dissimuladas pela
ideologia urbanística classista e segregadora.
A
"cotidianeidade" é vista como o informal, o espaço do banal, do
espontâneo, mas é também o conteúdo das
formas, das ideologias, da cultura, da
linguagem, das instituições, das atividades
constituídas e estruturadas (HERCULANO, 2010).
Em
a Sociedade Urbana, Lefebvre trata da sociedade que nasce
da industrialização e que foi constituída por um processo que domina e absorve a
produção agrícola. A Sociedade urbana só pode ser concebida ao final de um
processo no curso no qual a cidade explode (o tecido urbano se prolifera,
estende-se, corrói os resíduos de vida agrária, tecido urbano que não designam,
de maneira restrita, o domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das
manifestações do predomínio da cidade sobre o campo), e as antigas formas
urbanas, herdadas de transformações descontínuas e as antigas relações sociais
implodem. É válido ressaltar que nada acontece de maneira igual em todas as
partes do mundo, por isso existem cidades diferentes, regiões diferentes, etc.
Nessa
visão a cidade não é reduzida a simples localização dos fenômenos (da
indústria, por exemplo), para revelá-la como sentido da vida humana em todas as
suas dimensões, - de um lado, enquanto acumulação de tempos, e de outro,
possibilidade sempre renovada de realização da vida. Assim, a cidade se
realizaria também, como lugar do possível – possibilidade de um projeto voltado
para o futuro.
A
cidade, enquanto construção humana é um produto histórico-social e nesta dimensão
aparece como trabalho materializado, acumulado ao longo do processo histórico
de uma série de gerações. Expressões e significações da vida humana, obra e
produto, processo histórico cumulativo, a cidade contém e revela ações
passadas, ao mesmo tempo em que o futuro, que se constrói nas tramas do
presente – o que nos cola diante da impossibilidade de pensar a cidade separada
da sociedade e do momento histórico analisado.
Para
Lefebvre usar a cidade como valor de uso significa habitá-la nos gestos do cotidiano.
Daí a importância da crítica da vida cotidiana, pois é nas pequenas coisas que
podemos encontrar formas de relação autênticas. A aparência da vida
cotidiana está no aspecto do familiar, do banal, do inautêntico, no
entanto é justamente aí que surgirá o que é o homem.
Segundo
Proença (2011):
Afirmar
a cidade como obra significa reivindicar
nela dois direitos fundamentais: o direito
à apropriação e o direito à participação. A apropriação, longe de ser apenas
considerada como um direito a estar presente fisicamente num espaço material,
sendo o aspecto mais elementar de um direito à
cidade, ela é sobretudo a possibilidade
de reinventar e de criar a cidade, enquanto
entidade espacial e política.
Assim,
estudar sobre o cotidiano nos remete a buscar compreende-lo através das
dimensões em que ele é e se dá, o que para Lefebvre são as três dimensões da
cotidianidade que se dão em relações dialéticas e constituem uma unidade, ou
seja uma totalidade que deve ser apreendida. As três dimensões são: o trabalho,
a família e o lazer e pensá-las como questões tensas da vida social e
carregada de conflitos.
Outro
conceito importante é o de vivido que ligado diretamente ao viver seria o
conjunto de experiências sociais dadas e realizadas no decorrer da
cotidianidade que se realiza constantemente nas tramas das relações pessoais. O
espaço concebido “constituem o espaço dos planificadores, dos urbanistas e dos
tecnocratas que projetam o território e o
dispõem procurando reduzir ao espaço que
eles concebem, o espaço vivido e percebido
pelos utentes e pelos habitantes.” Proença (2011). O
espaço percebido é o das práticas sociais e constituem as nossas
representações, elas são o produto da apropriação do espaço e segregam seu
próprio espaço.
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