quinta-feira, 25 de abril de 2013

As (des)vantagens de ser ateísta

Esses dias parando para refletir e sistematizar os meus pensamentos fiz uma listinha com as vantagens e as desvantagens de ser ateia. Lembrando que ateia é o feminino de ateu e que também pode ser usado a palavra ateísta (particularmente gosto muito dessa última porque não possui gênero), e que tod@s significam pessoas que não acreditam na existência de deus(es). 





1º - Não ter a quem agradecer

Sabe quando você está muito feliz  e que tudo está se encaminhando e não há palavras para dizer o quanto esse momento é importante e aí você vai e fala "Obrigada meu deus"? Pois é, nós ateístas não temos ninguém para agradecer (além das pessoas que nos amam e a nós mesmos). O que pode ser uma vantagem também, já que você irá aproveitar as pessoas que realmente fazem parte da sua vida. Fora que sempre achei meio egoísta agradecer a deus por algo bom que esteja acontecendo na sua vida considerando a quantidade de coisas ruins que estão acontecendo na vida de outras pessoas. 
No entanto, às vezes olhando a paisagem tenho vontade de agradecer, então agradeço ao mundo, à evolução, ao cosmos, a natureza, etc. 

 2º Não ter a quem recorrer 

Muitas pessoas me questionam "quero ver quando você estiver morrendo se não vai pedir ajuda a deus" ou "ninguém é ateu quando o avião balança" e muitas outras frases que trazem a entonação de que você precisa de alguém além desse mundo para se apoiar. E de fato, quando entramos em uma fase de provação não temos a quem recorrer, não barganhamos com entidades celestiais, e em certos momentos é desesperador, porque  até se pode tentar rezar ou orar (tanto faz), mas verdadeiramente você não acredita naquilo e volta na estaca zero, ou seja, o desespero. Acho que é  esse um dos principais motivos das pessoas acreditarem em deus(es): ter alguém a quem recorrer quando não se tem mais nada. Se isso te faz bem, te dá suporte para não enlouquecer, vai fundo... 
Porém para quem não acredita em deus só resta tenta agir para conseguir as coisas ou esperar quando é algo além do que se pode fazer. A vantagem disso é que você pode se tornar uma pessoa mais proativa e fazer mais  coisas da sua vida acontecer, porque nós fazemos o nosso destino. (In)felizmente você é dono dos seus problemas, resolva-os. 

3º - Depois da morte

Este é outro conforto que a crença proporciona e nós abdicamos. Ninguém quer morrer, porque apesar dos problemas do dia-a-dia viver é bem legal, tem chocolate, balas, sorvete, filmes, bons livros, pessoas que você ama, desafios, etc. etc. E é por gostar tanto de viver que  muitas pessoas se apoiam no além morte, depois daqui vamos para um outro lugar, talvez não no mesmo corpo, mas com a mesma alma e melhor, será um lugar maravilhoso que dá de 10 no nosso planeta de meia idade, Terra. Acredito que é por isso que os cristianismo coloca o suicídio como um dos piores pecados, se depois que eu morrer for para um além-mundo super fodástico, porque raios viver nesse mundo horrível? 
E nós ateus? Ah, para  nós a morte não é um mistério. Você morre, é decomposto  e tudo que te compões vai voltar a natureza do seu ciclo, porque como diria Lavoisier, nada se cria e nada se destrói,  tudo se transforma. Por sorte depois de milhares de anos você pode compor um solo legal, ou quem sabe se tornar um fóssil, mas recentemente seu corpo pode alimentar bactérias ou animais necrófagos. O que importa é que tudo que te compõe vai continuar servido ao mundo e a possibilidade da manutenção da vida, mas não do jeito que sonhamos porque somos seres um tanto quanto egoístas. 
O ponto positivo é que sabendo que só temos uma vida, que os nossos problemas nós mesmos é que temos que resolver, a gente luta e vivemos da melhor forma possível o hoje e o agora. 

4º - A dificuldade de achar pessoas que pensem como você

Sei que hoje através da internet podemos encontrar qualquer grupo que quisermos, deve ter um página de comedores de meleca no facebook (vai saber) e com certeza tem muito ateu na internet e um número de pessoas no seu cotidiano, mas a maioria no nosso país é cristã e você tem que aprender a conviver com isso. Tem que entender que você pode usar bons argumentos em um debate sobre fé, porém quase sempre  vai perder (não digo o mesmo em um debate sobre religião). Porque a fé não é algo palpável, não é concreto, ela simplesmente existe nas pessoas e você não vai muda-las. 
Depois de muito tempo aprendi que é bom que essas pessoas continuem com fé, ficam mais mais forte e muitas vezes mais otimistas. O que seria da minha vó que passou a vida toda indo à igreja se eu a convencesse que deus não existe? Que sentido teria a vida dela? Por isso toda vez que ela me dá um "fica com deus" eu respondo "amém", afinal não me faz mal e eu sei que é um ato que significa: que tudo de certo no seu caminho, que nenhum mal te aconteça, eu te amo e te desejo o melhor. Tudo isso em uma pequena frase e não vejo sentido algum em atacar. Claro que existem pessoas que sabendo da sua condição de ateísta toda vez que vão te dar tchau usam a expressão "vai com deus" e, meu, ignora. A pessoa só está te atacando porque (é um babaca) não consegue conviver com a diferença. 
Para quem quer se sentir um pouco mais em grupo é só procurar por associações ou coletivos. 

5º- A argumentação

Ninguém nasce com religião, mas a maioria da população nasce no seio de uma família com crença. E não é um processo fácil o de se afirmar sem religião porque o tempo todo você cresceu ouvindo que deus era acima de tudo, então quando as dúvidas começam a bater a sua porta o que você faz? Você estuda. 
Sim, é isso o que todo mundo faz, começa a pesquisar sobre muitas coisas e corre atrás de respostas. O que é ótimo porque é dessa batalha interna que irão surgir os argumentos. O ruim é que ninguém com religião passou por esse processo de ter que aprender a argumentar, enquanto tivemos que ler diversos livros, artigos, participar de fóruns e etc. eles só leram a bíblia (que você também leu) e acreditam que é esse livro a fonte de todo conhecimento e sabedoria. 
Não estou dizendo que todos são assim, mas a grande maioria assim o é. Tem muita gente com conhecimento e  fé,  e com essas pessoas é bem legal conversar. Mas quando alguém começa a gritar "porque está escrito na bíblia", cai fora. 
Fazendo uma crítica ao nosso lado, tente não usar argumentações baratas (todo ateu é inteligente), e não seja arrogante (o que às vezes é bem difícil). 

6º - O preconceito 

Infelizmente há uma tendência na sociedade em tratar pessoas que pensam de forma diferente com agressividade, é  o tal do preconceito, que vai muito além do bater ou matar alguém, envolvendo também,  o desprezo, o desrespeito, o desmérito, etc. 
Quando se conta para uma pessoa que você é ateísta há uma grande probabilidade de que ela te trata mal porque ouviu dizer que ateus são pessoas más que matam e comem criancinhas, vice-versa.  Porque se uma pessoa não tem deus pode cometer todos os pecados sem ter medo. O que muita gente não entende é que acreditamos nas leis e nos direitos humanos, e sim, fazemos o bem ao próximo, não com uma promessa de um céu futurístico,  mas com a esperança de que esse mundo, essa sociedade, seja um pouco melhor. 
Com o tempo e a convivência tudo se acerta (na maior parte dos casos) e a galera vai percebendo que você é bem legal (ou não).  
Existem casos extremos de preconceito e procurar por  entidades que o apõem pode ajudar como, por exemplo, a ATEIA. 
O inverso disso é quando os ateus começam a ter preconceito com pessoas com religião, o que também é problemático. 

7º As tentativas de conversão 

Acho que é essa a parte mais chata, ter que ficar aguentando as pessoas falando no quanto deus é bom e que não podemos não acreditar nele porque ele está em tudo, blá blá blá. Eu tenho tentado ignorar (apesar de não conseguir me controlar algumas vezes), e de verdade tenho evitado debates profundos sobre religião. 
O que temos que entender é que também não convertemos ninguém. Tudo é um processo, com a gente foi assim, ninguém me "converteu" ao ateísmo, eu simplesmente fui montando uma série de dúvidas na minha cabeça e fui atrás de resposta. Quando cresci um pouco mais me deparei com um mundo horrível assolado com guerras, fome, corrupção e não vi deus em nada disso. Esse foi o meu processo, deixe com que as pessoas passem pelo delas, e sozinhas. O que se pode fazer é conversar, expor seus argumentos, ouvir o delas e deixar com que cada um processe a informação do seu jeito. 
O principal disso tudo é tolerância, o aprender a viver com o outro. E isso é um desafio independente do que você (não) crê. 




Enfim, tem mais coisas para escrever, mas acredito que essas sejam as principais. 

Um comentário:

  1. Gostei do seu post!
    Acho que resumindo tudo o que eu penso, eu não tenho nenhuma religião mas acredito em um único Deus. Mas não é aquele moço onipresente (SUPER VINGATIVO, rs) que tá no céu observando tudo o que você faz para depois te JULGAR e te PUNIR (afinal, a bíblia cristã prega que sejamos rancorosos mesmo, ah não, pera!). E ele também não é nenhum desses Deuses que cada religião cria. É o meu próprio Deus. E ao contrário de como as religiões pregam, ele não está me vigiando e me julgando o tempo todo, ele me ajuda, me dá suporte, me guia. É aquele feeling que me avisa que estou fazendo a coisa certa, sabe? Acho que encontrar Deus é isso :)

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