sábado, 18 de maio de 2013

Vamos descrever a paisagem?



Vamos descrever a paisagem? 

Eu sei, eu sei, muitos vão ler isso aqui e pensar: “Pô, descrição de paisagens, que positivista! A Geografia já saiu dessa fase...” 
E é verdade, a Geografia cujo único proposito era a descrição de paisagens já não existe, ao longo dos anos, os geógrafos perceberam que a complexidade do espaço vai muito além de uma simples descrição. E o que estou propondo aqui não é que voltemos nossos estudos nesse sentido, mas sim que prestemos mais atenção ao nosso entorno. 
É além da Geografia como ciência, é o também sentir o mundo como pessoas. Fenomenológico? Talvez, por que não? No entanto, para mim às vezes mais importante do que estudar e ter uma série de conhecimentos é vivenciar a questão; e a Geografia é uma ciência que permite que tenhamos essa união que pode ser muito prazerosa e nos levar a análises mais humanitárias. 
Eu posso ficar horas lendo sobre uma comunidade rural, mas só vou senti-la quando visitar uma. Eu leio e posso logo esquecer, mas as sensações que vivenciar a paisagem me proporciona leva há dias, meses, ou até mesmo anos, de reflexão. 
Um problema é que olhar uma paisagem pode ser simplesmente isso... olhar. Para sentir e entender além do que é dado é necessário ter certa gama de conhecimento (apesar de acreditar que essa reflexão pode levar ao conhecimento - em um sentido mais acadêmico). Assim como é necessário saber ler para entender o que está escrito em um livro, é necessário ter conhecimento para ler uma paisagem. 
 Além disso, é preciso querer, parar um pouco sua vida agitada e olhar para o que se olha todos os dias e perceber o que não se nota. Acho que toda pessoa que cursa Geografia sente a diferença que é olhar para um local qualquer antes e depois da Geo. É outra análise. Muitas pessoas não entendem a nossa relação de amor com o espaço, eu, por exemplo, posso ficar horas olhando a paisagem e isso não significa que não estou fazendo nada, pelo contrário, estou geografando. 

Volto agora para a pergunta que faço no começo: vamos descrever a paisagem? 
Mas por que descrever? Porque acredito que a descrição pode levar a descobrimentos. Às vezes na simples enumeração do que existe pode nos levar a coisas novas. Observe um lugar, agora enumere o que existe ali, de alguma forma irá surgir algo que você não tinha percebido antes. A descrição é algo fácil de fazer, o difícil é o depois, porém essa primeira fase é importante.  
Lembro-me das aulas de paleontologia que o professor sempre falava: “Na dúvida se o fóssil é verdadeiro ou não, ou que tipo é, desenhe.” E eis outro ponto que acho importante na descrição, o croqui. Quando se coloca no papel o que só seus olhos veem é como se a paisagem tomasse forma e os detalhes vão surgindo.
Eu gostava de fazer isso com os meus alunos da quinta série, levar uma foto e descrever o que tem nela, ou fechar os olhos e lembrar-se de outro lugar e irmos falando as diferenças e as semelhanças. Além do olhar geográfico ajuda bastante nas aulas de língua portuguesa, em bons livros metade da história é descrição de paisagens, onde  o autor através das palavras consegue nos transportar até o seu mundo imaginado ao ponto de conseguirmos visualizar a paisagem.
Para terminar fica a citação da definição de paisagem de Milton Santos:
                                    [...] tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão   alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista alcança. Não é apenas formada de volumes, mas também de cores, movimentos, atores, sons, etc. (Milton Santos, 1988).

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